domingo, 7 de novembro de 2021

Singularidade nua



Andava na rua à procura de luz,
de um tipo que não se produz em lâmpada qualquer,
que ninguém nem sequer soubera ao certo explicar.
Perguntava a si como encontrar
à luz do luar, algo que brilhasse para além de um horizonte de eventos.
Como fugir dessa lógica circular do espaço-tempo?
Fugir do lamento e do riso preso.
Introjetava a tristeza no próprio peito, como num buraco negro consumindo tudo ao seu redor.
Buscava então no avesso, um novo começo que o salvasse do fim.
Uma saída, um cume, onde enxergasse além do denso negrume sem bordas que implodia seu existir.
Feito bêbado equilibrista,
caminhando na teoria das cordas, escapista,
em todas as escoras, procurou.
Não achava alça,
Não havia balsa de salvação.
Exaurido,
lutava sozinho há muito, 
uma guerra sem armas.
Estrangulado por um
arame sem farpas.
Onde toda saída aparecia ensaboada.

Andava na rua à procura de luz
Não de um tipo qualquer
Daquela que faz curva sem ficar turva depois de dobrar.
Já exausto de olhar para o além, se deixou desabar para dentro de si.
Achando que seria esmagado,
avistou ao longe uma pequena luz,
Algo como uma estrela que cabia na palma da mão.
Porém de potencial energético não mensurado por homem, ou ciência qualquer.
Afinal, seria possível haver na penumbra que temia ser evento implosivo, objeto tão exclusivo que luz demasiada irradiava?
Que fechasse a lacuna onde física e natureza humana finalmente se unificara?
De maneira peculiar, ilimitada, contemplativa a tal ponto,
mesmo tonto percebeu
algo que estava ali no âmago, mas nunca se viu, o que aparecia eram seus arredores imediatos. 
Cercado de matéria com um centro vazio,
Um fino espectro de luz incomum
Carente de horizonte, 
O topo de um monte
No ponto mais profundo da alma.
Diante de si encontrara, sempre presente, sempre sua.
A poesia.
O evento sem horizonte
Contemplação convertida em ação pura,
Singularidade nua,
Saída e entrada da porta do infinito.

Júlio César

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