sábado, 26 de maio de 2018

Exercícios de desimportância

Sem mim ou comigo o mundo permanece tal e qual. Mantra da desimportância exercitada. Há um fundo cristão na caridade desapercebida e que persegue a humanidade. Fazer o bem sem que seja feito honra. Exercício de toupeira onde há pouco oxigênio quando se distancia da
superfície. Na superfície eu não sou ninguém. Desígnio filosófico-artístico da atração pelo nada. O que você tem? Nada. Não tenho nada a acrescentar e viva a alegria dos não-acrescentadores! Como dizia Bartebly eu simplesmente prefiro não fazer. Da preguiça surgiram
as maiores invenções da humanidade. Viva a preguiça da vida! O nada fazer. Respirar Basta! Esse texto mesmo não é nada que pedaços de Cioran, de ideias já feitas por qualquer um. Não me esforço para nada com ele. Ele é apenas um como qualquer outro diário escrito. Talvez sua vida seja flutuar como música. Mas se ele não quer ser nada, que não seja. Há algo interessante na percepção que se alarga na preguiça. Detalhes nunca antes visto. Vi uma traça carcomer meu livro. Eu deixei: "Coma tudo! Coma todos! Com eles ou sem eles o mundo permenece tal e qual." Bocejo para a traça. Ela talvez tenha algo a dizer da tinta preta que
consome, mas queria que ela não tivesse nada. Como eu não tenho senão o ar que respiro. "Mais um casamento da família real" diz o jornal e nele não há traça nenhuma. O que concluir disso? O que fazer com isso? Nada. "Míssil russo. "Atentado em Paris." "Jerusalém ou Israel͟". O que fazer com isso? Nada. Que sentido tenho para defender x ou y? Nada. Tudo é em vão e o mundo permanece tal e qual. "Direitos dos trabalhadores͟" diz a outra notícia. O que acrescentar? Nada. Ou melhor porra nenhuma. "Inteligência artificial: contribuímos para um grande cérebro do Google͟." Meu deus! Vamos ter robores domando nossa vida! Será nossa Matrix, seremos alimento das novas inteligências! Acaso eles terão esse
sentimento de nada? Valia a pena um robô nadificador mas não niilista. Seria engraçado um robô que soubesse que nada tem a acrescentar, com desejo de nada e que não fosse para salvar nada, nem ninguém. Simplesmente fosse triste. Mas que que isso acrescentaria? Nada,
ou melhor porra nenhuma. O meu teto tá cheio de mosquito em volta da luz. O que isso acrescenta? Nada. Elas tariam aqui ou em outro canto. O oxigênio taria em outros pulmões que não o meu. Ser imprestável é meu desafio ético. É o que tento fazer. Eu não tenho nada
que um nome para que possam me chamar e se referir a mim, mas no fundo sou nada. E persisto na desimportância de tê-lo. No fundo, o máximo que serei é um nome que uns ou outros vão dizer: "͞Ah! Eu o conhecia!͟" Até que ninguém mais lembre. O que isso acrescenta?
Nada. Ou melhor porra nenhuma. O mundo permanece tal e qual e apesar de tudo. O que isso tudo quer dizer? Nada, ou melhor porra nenhuma! Essa é a minha imprestabilidade, esse é o meu texto de hoje, ou melhor porra nenhuma!

Por Jayme Mathias Netto
vivissecção.blogspot.com

domingo, 20 de maio de 2018

Algo que não estava escrito.


Escrevo para os afortunados, aqueles planadores dos confins do mundo

Escrevo pois sei que o sinal de minhas ondas são surfadas na imensidão

Tsunami atômica, fótons de luz

No timbre de minhas ideias eu sou a interseção

Vibração quântica transpassada pelo nada

Escrevo para os anônimos, aqueles acolhidos pela máscara do incognoscível

Escrevo pois sei que sua identidade subjaz à solidão

Paráfrase do esquecimento, autonomia da negação

O capítulo da minha vida quem escreve é o absurdo

Transeuntes undergrounds do outro lado do muro

Escrevo para os invisíveis, aqueles cujos holofotes estão aquém de suas cabeças

Escrevo pois sei que jamais serão vistos por todos que têm olhos

Penumbra do entendimento, esclerose múltipla da criação

Entre as fendas da matéria há um espaço em construção

Ser é ser percebido, para eles não

Escrevo para ninguém, aquela coisa alguma de fora

Escrevo pois sei que não me darão ouvidos

Sons estridentes, lapsos de memória

Suspiram em mim burburios do aquém

Entre eles não há quem se julgue alguém

Por Paulo Victor de Albuquerque Silva

domingo, 13 de maio de 2018

ALIenado

Preciso de uma nova perspectiva da narrativa que inspira, empolga e enche os olhos do leitor faminto.
Preciso de um novo instinto para criar. Um labirinto do qual a saída seja possível somente aos que enxergam além da escrita.
Preciso da rapidez, da esquiva de Cassius Clay, onde só no replay se viam os movimentos executados para fugir do choque dos socos da opinião alheia.
É preciso que se"Float like a butterfly, sting like a bee",  tem-se de ser afiado, para quebrar a barreira de "cimento" em fragmentos de mentira bem fundamentada.
Para escapar da encíclica de afirmar que quem clica não se comunica, porque as letras estão em todo lugar.
Mudar a perspectiva!Virar o disco, correr um risco, transformar meu risco em ogiva que torne nuclear a mente de quem lê.
Como a dinamite que  Nietzsche foi para a filosofia dos melindrosos.
Transcender a redundância do código sem resposta, da sombra no escuro.
Deixar de ser instrução, obedecer padrão,comando, esquema, deixar de ser botão, gema...

FLORESCER!

Por Júlio César Barboza
Vivisseccao.blogspot.com

domingo, 6 de maio de 2018

Diatribe inconsciente

Zumbizava uma Diatribe inconsciente ou
Elã ou
qualquer coisa
Vociferava lá debaixo
Ou Encarnando
Ou Reverberando
Ou era Onírica em eco
Que ecoa como ecoa
Um vai e vem aceso
Ou Cujos ápice soturnos
Em transe entram
Ou Lúgubre poesia
do inconsciente não feito
Ou possível
Ou Dinâmica
Ou Esperança
Ou Qualquer coisa
Ou Qualquer outro
tudo, tudo, mudo como surdo, tudo, tudo
De cunho bicudo, felpudo, marrudo,
udo
udo
udo
Pah!
... estourava na bigorna uma voz.
Era uma voz de adeus,
que ninguém mais conseguia ouvir.
E Deus fez a carapaça surda cujo o homem chamou de eu.

Por Jayme Mathias Netto
Vivisseccao.blogspot.com