domingo, 21 de novembro de 2021

 É a sensação de estar só que me faz escrever

Não aquela solidão como quem está de fato só

Não aquela coisa silenciada sem ninguém por perto

Não aquelas meditações provenientes da alma abandonada

Não aquelas coisas cartesianas de escrever de noite e no escuro

Não aquela coisa sem perturbação

Não aquela coisa de silêncio íntimo sem as coisas do corpo

Não

Não!

É a solidão de estar no meio de todo mundo

É a solidão de estar acompanhado

É a solidão de estar eu mesmo falando

É a solidão de estar escutando

É a solidão de estar conversando

É a solidão de estar junto e em bando

É a solidão de estar rindo e pensando

É essa solidão que me faz escrever

Ela me incomoda muito

Mas o pior de tudo: como eu diria que ela não me agrada?

Ela no fundo é insuportável, daí porque escrevo, mas se ela não fosse assim eu não escreveria

E toda força de escrita em mim vem do fato de que uma parte de mim é sociável e outra é um ser altamente antissocial

Aliás, é a contradição que me faz pensar

Eu me espalho no meio de quase todo mundo

Dos de direita e de esquerda eu até puxo assunto, engulo suas verdades

Sugo, porque toda verdade de ambos os lados é mentira

E isso faz de mim um ser que pensa

Quando percebo depois dessa contradição o quão solitário fui, viro antissocial

E só o texto me serve, porque aqui nem há verdade ou mentira

Aqui o que há é franqueza e honestidade

Na minha escrita só há sinceridades

Contra as quais nunca existem contra-argumentos 

ou se há mando-os para longe

São autoritários os sentimentos

Pode-se até dizer que sim, autoritários, fascistas, comunistas, mas são sentimentos reais

Eu os sinto, basta

Mas é porque no fundo cada sentimento quer algo, quer ser experimentado muitas vezes até como força contrária

Às vezes um sentimento vem só para ser contrariado

Acho que sei o que digo quando afirmo: minha solidão é social, a minha sociabilidade é antissocial 

Se não nunca escreveria

Se não fosse o contrário, a coisa besta, a burrice, jamais outra parte de mim seria algo que pensasse mais a fundo

E eu vivo da contradição

Porque todo sentimento exige forças contrárias

E tem gente que vem dizer que é dialética

É nada! Não entendeu foi nada! É muito mais louco, mais belo e bem mais real!

É uma briga de forças múltiplas e contraditórias

Ah se fosse apenas o contrário, seria bom demais num era não?

Mas não

São milhares de facetas do sempre diferente

Eu só reduzo à palavra para ter como escrever e raciocinar

Mas pegar uma coisa e só pensar no seu contrário num tem como não

Porque o contrário de estar só nem existe

Mas seu sinônimo eu sei bem

Pois tudo quanto é bom é tão difícil quanto raro!


Jayme Mathias Netto


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