O único mal irremediável me aguarda,
Aquele mesmo do qual Chicó tanto falava.
Eu nasci pra morrer.
Como a folha que cai,
E a água se esvai para os polos da terra.
Sem saber se tem retorno,
Se um dia voltarei sob a forma de outra coisa qualquer.
Compra sem extorno,
Ou certificado de garantia.
Nasci para morrer.
Deixar de ser.
Como a brisa que corre apressada pelos cabelos,
Como o irreversível caos do desmantelo,
Daquilo que tava quieto e eu não sosseguei até quebrar.
Nasci e irei morrer,
Sem saber o que me espera.
Valhalla, elísios, harém, paraíso
Sem esferas do dragão pra desfazer o luto,
Como o doce amadurecer dos frutos,
Cada vez menos polpa, cada vez mais casca.
Para o regozijar dos brutos
E a saudade dos poucos que de alguma forma toquei.
Eles também passarão.
Nascemos para morrer,
Como dormir para nunca alvorecer,
Murchar como aquele suflê que desandou.
Nascemos e morremos.
Como passagem, rito, sem continuidade,
Como deixar de ser bonito, com o passar da idade.
Sem mito.
Verdade, certeza, fato inevitável.
Como o fim certo em que tudo converge para o laudo imutável,
De que somos finitos, passageiros, limitados,
Que expirou-se o prazo de validade.
Certo dessa valsa que, cedo ou tarde, dançarei com Samael
E de que a velocidade é alta,
Resta juntar as moedas
Para a travessia Estige-Aqueronte
E ver cada pôr do sol no horizonte como se não fosse renascer.
Sempre nasço para morrer,
Morrer de amor,
Morrer de rir,
Morrer de comer, de beber,
Morrer de fazer e dizer tudo aquilo que me faz feliz.
Pois as cicatrizes que ficam das feridas dessa vida também morrerão comigo.
Tudo que temos, que vale a pena,
Vem do sentimento envolvido no processo.
Então eu nasci e vou morrer sim!
Morrer de excesso!
Morrer porque me expresso sobre tudo que me toca.
Morrer possesso pelo que me apraz.
Eu nasci pra morrer!
Não há o que fazer,
Está escrito!
Então que aqui fique dito,
Que nesse meio tempo,
Vou morrer de viver.
Júlio César Barboza
Morrer de viver! Boa!!!!
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