segunda-feira, 15 de março de 2021

Princípio do terceiro excluído

 

    A lógica clássica aristotélica nos revelou o “princípio de identidade”, o “princípio de não-contradição” e o “princípio do terceiro excluído”. Tais estruturas apriorísticas são condicionantes que delimitam o pleno funcionamento do entendimento humano. Ainda no mesmo período, fomos presenteados com o advento da “dialética”, tão relevante para a prática reflexiva no discurso filosófico. Tais contribuições vieram a culminar no grande projeto sistemático hegeliano, que como sabemos influenciou grande parte da filosofia alemã posterior, incluindo o materialismo histórico marxista.

    Na tentativa de compreender a realidade, partindo do pressuposto de um movimento dialético do real que flutua entre seus extremos - já que provenientes do espírito humano objetivado no fenômeno mundano - é comum a tradição filosófica interpretar os acontecimentos históricos dentro do aparato lógico/dialético da contradição. Em outras palavras, os acontecimentos históricos são derivações do movimento entre os seus extremos fenomênicos que dão concretude ao real. Cabe a nós, enquanto sujeitos do conhecimento, compreendermos a lógica estrutural dos acontecimentos históricos para então, transformá-los. Trazendo para nosso contexto, podemos afirmar que uma percepção aguçada dos mecanismos contraditórios do sistema capitalista de produção nos permitirão causar-lhe uma ruptura radical, tendo em vista o advento de um novo sistema econômico.

O movimento lógico estruturante do nosso processo cognitivo em que garante a identificação conceitual da realidade a partir do binômio ser/não ser, ao se tornar horizonte do entendimento intelectual, soterra a possibilidade existencial do “Outro” como elemento interventor, da possível ação de um “terceiro excluído”, já que tal interventor escapa ao pensamento lógico. Cientes disso, tendenciamos, logicamente, a analisar as contradições inerentes ao capitalismo deixando escapar um terceiro agente - porventura logicamente possível - que possa vir a ser um transformador radical das superestruturas sociais. Eis que em 2019, um terceiro agente, excluído do arcabouço lógico clássico, surge, do âmago mais misterioso da natureza, e expõe novamente toda a contradição imanente ao sistema econômico de produção mercadológico. A história exige que a Covid seja acolhida no entendimento lógico humano e que, soterrada no pensamento, deixe de ser um risco potencial, mas a natureza sempre há de emanar seu mistério.

Paulo Victor de Albuquerque Silva

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