domingo, 1 de dezembro de 2019

Café

Nas inúmeras substâncias da vida, eu fui capaz de chorar como uma criança simplesmente porque tomei café. O fluxo de consciência foi tão rápido e dilacerante, logo pela manhã, na superdose que havia feito, que passei a delirar. Minhas mãos suaram frio e eu escrevia algum objeto de meu trabalho num apego intenso e verdadeiro. O meu estômago exprimia-se todo. Eu tinha alta sudorese. A respiração era ofegante e os pensamentos muito acelerados. O nervosismo da mão em estar digitando rápido produziu textos que tive que reiterar completamente, porque comi muitas letras e consoantes como a traça. Era uma ansiedade que parecia que eu estava guiando para algo bom. Como se o medo pudesse ser guiado. E tomei à frente com muito trabalho a fazer e fiz, fiz de uma forma mais conectada à própria raiz de onde me fiz como trabalhador. Eu me vi exalando o cheiro de café para todos os lados e bebia água para ver se passava logo. Cerca de duas horas depois julguei-me mais tranquilizado, quando me acometeu uma azia e uma fome ao fim da manhã e para hora do almoço. Fiz um poema ao café nesse meu delírio único. Posteriormente, quero que a água me faça assim e quem sabe mesmo o vento, o sol, a chuva, o cantar dos pássaros, eu quero delirar com qualquer coisa de forma alegre. Hoje vi uma traça andando pelo meu livro. Não matei. Depois de saber dos meus delírios ativos, deixei também a traça comer letras e consoantes, talvez ela esteja tomada pela vida. Uma alegria que ainda não fui capaz de ver, mas apenas de sentir que existe. Eu era uma traça cósmica, que consumia livros e replicava outros tantos. Ela podia estar delirando na química preta das letras e confabulando que era no cosmos um homem lendo e digitando. Acontece às vezes, e sem querer, a vida nos apresenta esses sorrisos.

Jayme Mathias 

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