domingo, 15 de dezembro de 2019

O professor e a pós-verdade.

Pensar que os estudantes das escolas básicas, em uma época permeada pelo fenômeno da pós-verdade, são completamente influenciados ideologicamente por seus professores, demonstra a falta - para não dizer ignorância - de uma análise detalhada do que seria a realidade escolar por parte daqueles que defendem tal hipótese. Diariamente somos bombardeados com informações do mundo inteiro através das redes sociais. Se na origem histórica da imprensa contávamos basicamente com as notícias impressas nos jornais, agora dispomos do rádio, televisão, computadores, celulares, tablets, da internet em sua totalidade. Saímos da escassez, ou melhor dizendo, de uma realidade restrita em que a informação era privilégio de grupos específicos, para a era virtual da notícia globalizada. Hoje temos acesso à informação, somos ativos no processo de busca. Que transformações se fazem presentes no campo cognitivo dos indivíduos contemporâneos que em poucas décadas se viram deslocados de uma sociedade da informação restrita, para outra, da informação ativa, virtualmente dinâmica?
A sociedade informatizada, permeada pelo fenômeno da pós-verdade, impõe aos profissionais da educação um novo desafio: despertar nos discentes a manipulação crítica sobre as informações ininterruptamente produzidas e que são transmitidas aos mesmos. Ou seja, a nova geração de estudantes chega às escolas, não enquanto tábulas rasas em branco, mas com seu sistema cognitivo diariamente sobrecarregado ideologicamente. A mesma necessidade com o cuidado do conteúdo que se faz presente no planejamento das aulas por parte do professor, que procura tanto evitar entrar em contato quanto disseminar notícias falsas em sala, deve ser uma máxima ao alertarmos a juventude quando se deparam com o bombardeio de informações virtualmente modificadas. Mas qual seria a relação entre a notícia falsa e o virtual?
A virtualidade não é algo novo na história da humanidade. Tomemos como exemplo o amor platônico - ele é uma idealização virtual de um outro ser que habita os espaços da alma do amante. A virtualidade é um fenômeno ideal, mas que em alguns casos se pretende concreta, ou melhor dizendo, transfigura a materialidade em nome do seu ideal. Daí afirmarmos a diferença entre a mera mentira e o fenômeno pós-verdade. A primeira tem por objetivo esconder uma faceta da realidade circundante, a segunda propõe uma transmutação do real em detrimento da virtualidade, permeada e estruturada pelo cunho ideológico. Aos educadores cabe a tarefa de despertar a percepção cognoscível sobre as camadas de realidades construídas pelo mundo pós-moderno. Dizer que as escolas encontram-se atreladas a um plano doutrinário da esquerda - seja com a “ideologia de gênero”, “marxismo cultural”, “sexualidade infantil”, etc. - diz muito mais sobre o projeto de politização da virtualidade do que sobre a materialidade existencial da prática escolar. Eu, enquanto professor do ensino básico brasileiro, reconheço a importância dos aparatos técnicos digitais em nosso contexto escolar, mas devo, eticamente e politicamente alertar sobre nosso novo papel educacional na promoção da distinção cognitiva das camadas entre a virtualidade e a concretude do real.

Paulo Victor de Albuquerque Silva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito obrigado pela participação. Continue acompanhando e comentando, isso é fundamental para nosso trabalho.

Jayme, Júlio e Paulo.