domingo, 8 de dezembro de 2019

Sucesso

Sempre mal agradecido.
Nunca notei que os pedaços do meu coração, comidos por mim, encheram meu próprio bucho.
Morrer não morri.
Aqui estou e mais uma vez regresso.
Talvez o sucesso não esteja no que dizem que está.
Sou campeão de mim mesmo, todos os dias.
Venço fantasias vãs de uma vida que nunca tive.
Será o sucesso, excesso e falta ao mesmo tempo?
Excesso de fracassos acumulados na cicatriz que mal fechou e já arranquei outro pedaço com a boca. 
Falta da vicissitude de abocanhar o outro, falta de malícia, de maldade, de achar que o mundo é dos mais espertos e não dos mais bondosos.
Fato é que me devoro e, aos poucos, sobrevivo de mim.
Já não sou o mesmo, pois o tecido que cura é novo.
E juntando minhas migalhas é que enxergo o quanto elas me salvam. 
É do verbo que se fez carne e foi devorado, que hoje sou nova folha em branco, amassada talvez, mas inteira.
E dessa maneira decidi que meu sucesso é na medida em que venço o pior de mim.
E arranco pedaço a pedaço o que me dói. Me reescrevo.
As armadilhas que nunca encontrei, foi porque tinha caído em cada uma  delas, estava só. Sobrevivi das migalhas. Do pedaço que se desprendeu em cada uma.
A elas sou grato, são meu prato principal e sobremesa.
Sou canibal de tudo que me desagrada.
Dizem que triste é quem precisa de muito. O intuito é cada vez mais deixar de precisar. Até se bastar.
Meu analista diz que talvez eu esteja com síndrome de Estocolmo, e me apaixonei pelo meu captor. No caso eu mesmo. Até perceber que também sou meu próprio analista. Seria ele uma migalha de mim?
Talvez eu o devore, se ele me encher o saco!
É provável que eu esteja com a doença da vaca louca, vai saber!
Certo é que do ponto de vista que é vista de um ponto, não sobrou pedra sobre pedra  do que me cerca.
Mas minhas migalhas permanecem aqui. São minhas.
Sucesso é encher o bucho de migalhas.
O coração, hoje, serve apenas de saco de pancadas, melhor então que esteja no meu bucho.
Minha casa é o mundo, o caminho que ficou atrás não importa mais.
Sucesso é como me despeço de tudo que dispenso.

 Adeus!?

Júlio César 

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