domingo, 2 de dezembro de 2018

Uma conversa síncope

Criatividade: Não faça isso comigo. Não me deixe cair.

Ego: Eu sei. Tenho eu de ir mais um pouco nessa vasta terra infértil.

Criatividade: Não suporto mais sua falta de atenção. Não me deixe cair.

Ego: Eu sei. Eu tenho de regular aos moldes dos outros, senão não falo a ninguém.

Criatividade: Merda! Sempre esse papinho de merda! Sou a doce donzela que arde e inspira
poetas e você me quer no encaixe. Nunca mais voltarei para essa merda de morada.

(Ela partiu como o sopro da manhã e calada ante a razão imperatriz.)

Razão: Ela gosta de brincar. Qualquer dia desiste de mim, essa vadia. E perambulará pela vida e pela cabeça dos outros. Pescará ideias similares. Abrupta distração de alguns. Selvageria em outros. Quantas vezes calou-me a boca. Quantas vezes fez-me ousar. Já já ela volta, amançada, amordaçada pelas correntes dominadoras da falta de gosto pela vida. Atraída por tudo que é humano, mas distante deles, achando em mim consolo livre. Vai-te. Vai-te perambular. E namora com o Entusiasmo que está no canto. Mal deixa-me organizar um pouco as coisas e já parte também com alguma raiva de suas próprias crias: o Tédio e a Preguiça.

Jayme Mathias Netto
Vivisseccao.blogspot.com

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