domingo, 22 de abril de 2018

Rota de fuga

Em mais um percurso diário, ele olhava pela janela do ônibus enquanto as imagens que passavam fora distorciam-se, na medida em que a velocidade aumentava. Pensava: " a simples maneira de olhar as coisas muda tudo sobre elas. Será que as olho da maneira correta? Será que há maneira "correta" de olhar?" Sempre propunha a si esse tipo de exercício. Com os fones no ouvido, transportava-se para os mais inóspitos lugares do mundo e povoava-os com milhares de possibilidades. Certa vez encarnara o James Bond que virou bandido e fugiu sem rumo frustando a MI6, na outra fora o coringa que tomou juízo, desistiu de Gotham e saiu a distribuir sopas para os necessitados passando a se sustentar de shows de humor. Não havia limites para o aberto que se erigia diante da trilha sonora da mente. A cada parada convencia-se mais e mais de que a vida não precisa ser uma via de mão única e de que todo "ismo" era redução. Já havia refletido sobre isso inúmeras vezes antes de ouvir o pensamento traduzido na simples verdade de que "tentar explicar tudo é coisa de ser humano."
Chegou ao ponto de decida, tirou os fones voltou a viver no seu autorama de gesso.
Tão abrupto quanto o começo  foi o fim.
Gradativamente, enquanto caminhava para casa, tornou a si.
Certo de que no dia seguinte voltaria a voar por entre os prédios como um pinguim com asas de condor.
Certo de que a vida é um truque de luz.

Por Júlio César Barbosa
vivisseccao.blogspot.com

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