domingo, 29 de abril de 2018

Resposta para Heidegger

Esse texto vai para um grupo seleto de pessoas que, assim como eu, se depararam com a metade da vida ou, de maneira mais positiva, encontram-se na metade do caminho de encontro com a donzela dos lutos, a morte. Sabem aqueles casamentos arranjados que os pais conseguiam para seus filhos? Talvez tenham se espelhado no inevitável projeto do nosso destino para com o óbito. Não existe união mais fiel. Fonte de inspiração para a ideia de eternidade conjugal.
A morte não carrega uma foice, ela arrasta consigo um véu e sua grinalda. Odeia quando alguns afirmam repetidamente “até que a morte os separe”, pois ela sempre fora a noiva prometida que aguarda pacientemente seu cônjuge. Chega apenas para levar aquilo que sempre foi seu de direito. Pansexual, não faz distinção entre seus pretendentes. Qualquer coisa viva é sua fonte de desejo. O inorgânico é sua constituição. É a isso que o leitor deve voltar sua atenção. A morte não é metafísica. Ela está entre nós, atravessando-nos com tudo aquilo que é inorgânico. Percebemos a morte não quando o falecimento se consuma, mas em tudo aquilo que não possui vida, no inorgânico. O morto nos rodeia. Olho ao redor e vejo a morte em todos os lugares, nos objetos em minha volta, nas minhas roupas, no ar que respiro.
O homem não é um “ser para a morte”. Antes, somos seres em meio à morte. Ela não está no futuro. Majestosa, ela nos cerca, envolvendo-nos no seu silêncio. Agora percebo que não me encontro na metade do caminho da minha vida, encontro-me na metade do meu caminhar com a senhora morte. E no final, simplesmente deitarei em seus braços.
Por Paulo Victor Albuquerque
Vivisseccao.blogspot.com

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