domingo, 8 de abril de 2018

Cartografia da vida adaptada


Em que instância poderíamos nos considerar livres? Corriqueiramente nos deparamos com duas principais teorias que defendem a existência da liberdade. Para a primeira, ser livre significa interagir espacialmente com a coisa extensa obedecendo os limites fisiológicos da carne, na outra, liberdade seria a realização de um ato que parte da minha vontade, não dependendo de um terceiro que me obrigue.
Antes de mais nada devo admitir a possibilidade de que a liberdade não passa de uma mera ilusão humana. Acreditamos que somos livres. Creio que posso agir de acordo com minha vontade decidindo os rumos de minha existência. Contra isso, alguém poderia me questionar se o que eu decido realmente parte de minha vontade livre, se não existem forças externas, as quais não conheço, me obrigando a agir de modo determinado. Em relação a locomoção livre no espaço também cabe outro questionamento: o ambiente onde vivo não delimita de todas as formas minhas ações, seja na locomoção, o lugar onde nasci, a língua que falo, os limites do meu corpo?
Se quisermos levar a sério a questão da liberdade temos que pensá-la sob esses dois aspectos, tanto a volição de nossas escolhas como nossa inserção em meio às possibilidades do espaço. Se pensarmos bem, somente podemos existir dentro de um espaço preenchido com coisas, pois o vazio não está ocupado. Ele (o espaço) paradoxalmente exerce uma dupla função: ao mesmo tempo que delimita nossos atos é também o único que nos permite agir, já que somente existimos dentro dele.
Ainda poderiam nos questionar se o libertar-se não seria semelhante a uma fuga, um desprender-se. O ato de sair de um lugar ou deixá-lo é antes de mais nada a pressuposição da ocupação de um outro lugar, pois não existe um fora absoluto do espaço, um além-lugar. A cartografia de nós mesmos delineia não somente os espaços do nosso corpo mas também os da nossa mente. O que seria liberdade então? Talvez seja aquele momento em que abrimos o mapa da vida e desvendamos os tesouros que encontram-se em meio a ela, ou talvez eu simplesmente me esqueça de olhar o mapa.

Paulo Victor Albuquerque
Vivissecção.blogspot.com

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