Oi,
ouvi dizer de você por meio de alguns amigos. Escrevo essa carta, porque acho que fui bloqueado das suas redes sociais, portanto nada mais justo do que um velho e bom "manuscrito" para dizer o que realmente importa.
Já faz aproximadamente um mês que não tenho visitas suas, nem sinais de que você pensa em aparecer. Fora aos domingos de madrugada, lá pelas duas quando, com insônia, tento lembrar de quando éramos bons amigos, de quando viajávamos juntos brincando com palavras e versos, perversos como crianças mal intencionadas. Livres do julgo da aceitabilidade. Certos do sopro da contemplação.
Ainda tentei gritar pelo seu nome, mas você estava longe demais e pareceu não querer escutar.
É muito difícil ter de deixar o orgulho de lado e assumir que não tenho sido o mesmo sem você.
Os filmes, os livros são apenas sequências de palavras vazias. Sem a nossa parceria, nem mesmo a velha receita de rimar flor e amor tem funcionado.
Meus dedos tem se perdido em conversas vazias pelo whatsapp. Meus olhos em reality shows baratos e fotos no Instagram. Algumas vezes são as suas com outros amigos, em blogs de arte, poesia e em textos que eu sei que foram escritos com você ali do lado, com aquele seu velho tom, quase que turrão, quando fala: "Assim não! Assim você sente quando lê? Ou apenas lê?Isso não é manchete de jornal não rapaz!"
A verdade é que está tudo mais difícil e por muitas vezes tenho pensado em desistir, porque me dói ter que saber, por terceiros, que você comprou as ideias deles, que são aplaudidos e admirados.
Tudo que eu queria era a nossa cumplicidade de volta.
Não pelos outros, mas porque me revolta, nas poucas vezes em que empunhei a caneta e consegui escrever, não sentir. Porque sou o que sinto quando leio o que escrevo. E você me ensinou a ser assim.
Espero que saiba que nem a Experiência, aquela velha senhora de quem tinha lhe falado, aquela que a dona Idade vem tentando me empurrar como melhor amiga toda vez que erro; nem mesmo ela tomará o seu lugar.
Só você me faz tirar um coelho da cartola sem farsa, pura mágica e escrever, em qualquer superfície plana, a verdade plena que vai além da oração subordinada.
Saiba que anseio a sua volta, estou sempre a sua espera, será sempre bem-vinda, após as minhas vírgulas ou entre as minhas aspas. Que não seja esta carta o nosso ponto final.
Do seu melhor amigo,
O Poeta.
Por Júlio César Barbosa
vivisseccao.blogspot.com