Não posso mais tocar
Não posso mais sentir o carinho
Não posso mais pedir uma história que ela lembrava
Não posso mais pedir pra saber como era quando eu era criança
Não posso mais pedir pra ela pastel de queijo
Não posso mais pedir pra ela meu bolo de goma
Não posso mais ir na sua casa e sentir seu cheiro, sentir seu abraço e seu beijo
Não posso mais pedir para que me conte o dia em que eu nasci
Não posso falar com a única pessoa na vida, a única que nunca me aborreci, que nunca briguei, que nunca me irritei...
Há 5 anos já tinha ido o mental, com o Alzheimer confundia-me com outros netos, não lembrava tanto
dos detalhes nas histórias
Há muito não tinha eu os detalhes dela
Mas o fato é que foi-se...
Que não posso mais tocar...
A vida agora é o tudo o que havia antes, porém sem ela
E não posso mais um monte de coisa
Só resta lembrar o quanto era forte, o quanto era algo o mais próximo que vi de uma santa
Nunca foi à Fátima, seu sonho, mas mesmo assim dentro dela era como Fátima
Fazia milagres
Só resta lembrar o quanto era humilde, às vezes teimosa, mas sempre cuidadosa consigo mesma e com
os outros
Só resta lembrar o que aprendi para ter pulso firme levantando sempre a mão esquerda
Mas agora a vida é tudo o que era antes, porém sem ela
E nessas horas queria reinvidicar de Deus meu direito de sofrer na hora certa
Deus sendo esse ser dotado de vontade devia nos dar a chance de fazer uma cesária da morte
Escolher hora e data, já que o dia estaria chegando
E a gente ia lá e se despedia de todo mundo
Ele nos mandava embora sem estarmos em hospitais, sem sofrer
Só se despedindo como quem viaja e olha uma paisagem bonita pela última vez, talvez até festejando e fazendo da morte um momento único como o nascimento
Mais simples seria se trágico fosse
Ao guardar certa tragicidade ganharíamos talvez bem mais beleza e força
Jayme Mathias
Belo poema!
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