domingo, 19 de dezembro de 2021

Tempo em disfarce



A medida das coisas é algo humano, salvo engano, só conhecemos o que, nomeamos, definimos e mensuramos.
Uma sociedade de controle foi erguida como solução racional para o caos da incerteza, do volátil, das garantias do amanhã, do existir para além agora. Porém, até entre as coisas por nós rotuladas, há uma entidade a qual sentimos, nomeamos e quantificamos e, mesmo assim, a ela somos todos subservientes.
Quanto vale um minuto?
60 segundos, responderá o pragmático.
Uma eternidade, responderá aquele que segura na mão um ferro em brasa.
Um piscar de olhos, interpelará quem se despede de um ente querido.
É relativo, diria o cientista.
Fato é que "os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem."
O tempo pois anda em disfarce! É o mestre de todos eles. Perfeito, implacável, inevitável.
No passado, é memória, trauma, saudade.
No futuro, incerteza, promessa, esperança.
Mas é no presente que ele melhor se traveste.
Ele é aquele abraço que você não dá por estar apressado pra ir trabalhar. Sim, ele também é própria pressa.
Ele é a preguiça no dia de chuva, os 10 minutos de soneca no celular.
Ele é o tropeço na calçada, o esbarrão na madrugada com alguém que há muito não se via.
Permeia todo o espaço não humano com aquilo que nos move de maneira involuntária. As cordas da marionete. Ele é a respiração celular, a gênese e a plasmólise.
Atração cega, reação em cadeia.
Germinação e senescência.
É o respirar e a falta de ar.
O primeiro dente e o último.
O primeiro cabelo. O primeiro cabelo branco.
Orgulho e lamento.
Ele é isso e muito mais. O escape da própria definição, o próprio digitar dessas palavras parcas.
De uns dias pra cá eu tenho visto o seu disfarce... e lentamente ele tem me tirado toda e qualquer certeza.
Ao mesmo tempo em que me concede todas as respostas.
Ver o disfarce do tempo é ter noção de que não há invenção humana que dê jeito de pará-lo, acelerá-lo ou revertê-lo. Ele é o que é, mesmo sem tic tac, passa despercebido por nós a todo instante. Evento absoluto. 
Inviolável.
Impossível de enganar, não há atalhos,
"não se pode produzir uma criança em um mês, por engravidar nove mulheres."
Nas inúmeras coisas em que somos supérfluos, conseguir perceber onde reside a mimética do tempo talvez seja onde repousa a verdadeira profundidade, peripécia de poucos. Ainda assim, reconhecer que "tudo que temos que decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado" é talvez a consciência de continuar movendo os braços para não afundar em um oceano de segundos ganhos e perdidos.
Portanto hoje, antes de dormir, saude vigorosamente o tempo que passou por você ao longo do dia, e também aquele que está diante de você.

A favor ou contra 
Ele é tudo que você tem.
Você só não enxergou o disfarce.

Júlio César

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