domingo, 12 de dezembro de 2021

Fragmentos do cansaço e esgotamento


Pois é, mah, eu tava até pensando no que o Deleuze escreveu sobre o cansaço da nossa vida contemporânea.
Porque o cansado, enquanto conceito do Deleuze, quer dizer algo do tipo: "estou cansado de possibilidades, de escolhas, de ter que escolher".
Mas toda possibilidade permanece e se multiplica em cada escolha e o possível nunca se realiza, é largo demais para se concretizar.
Então isso retoma a ideia da sanguessuga de Nietzsche. A sanguessuga é o cientista, lá no Zaratustra do Nietzsche é, digamos assim, um especialista em cérebros.
Esse especialista, no entanto, é certo de seu ofício, ele não quer saber de todo o resto, quer apenas saber o que sabe bem.
Daí que tem-se que ter uma fisiologia desse tipo
para aguentar um tempo desse tipo e vice-versa.
Esgotam-se as possbilidades do nosso tempo e o cansado é levado ao extremo de sua esgotabilidade.

O cansado está sempre aquém das suas possibilidades. Está com 10 sanguessugas no braço, como no Zaratustra lá do Nietzsche, ele está aguentando firme, porque precisa estudar o cerébro delas e só consegue fazer isso.

O fato é que cada indivíduo se sente sempre aquém do que ele deveria ser, ele nunca está à altura do que deveria ser, estar, vender, fazer, cumprir, acabar, produzir. Daí o Deleuze falar em algum canto que eu esqueci:

"O cansado apenas esgotou a realização, enquanto o esgotado esgota todo o possível. O cansado não pode mais realizar, mas o esgotado não pode mais possibilitar." (Algum trecho de algum livro aí, p.2)
O possível está para o cansado como questão de objetivo e preferência: sair ou não de casa, por
exemplo. Essas possibilidades, essas exclusões e variações que demandam toda escolha é o que faz cansar. Mas o egotado está sempre em atividade, e é sempre para nada.
Isso nunca se conclui. Em algum momento a gente tá cansado de algo, mas esgotado é algo mais profundo, porque a gente se esgota de nada, por nada, a gente se esgota em função de nada, pelo nada e para o nada. 
Esse é nosso tempo e nós. Nós e o nosso tempo.

Jayme Mathias

Um comentário:

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