domingo, 24 de outubro de 2021

Arte morta.

  Toda obra de arte depende da técnica, instrumentos necessários para o aperfeiçoamento do trabalho artístico, sejam eles objetos materiais ou mesmo a competência desprendida pelo artista. Ao laborar, o artista tanto pode especializar-se em uma técnica ou estilo específico quanto pode criar algo novo. A obra clama por técnica, criatividade, autonomia e ociosidade.

Durante o processo criativo o artista expressa sua intenção por meio de sua técnica, ressignificando objetos no mundo vigente. A arte ressignifica o mundo a cada reprodução. A ressignificação tem um duplo sentido: 1) por um lado reforça o significado simbólico-material do dado em um retorno do sempre igual; re-significa, re-produz. 2) por outro, re-significar seria a doação de um novo sentido, re-inserção do objeto no mundo numa implosão de percepções outras. Ao encontrar-se inserido no mundo o artista está fadado tanto a sua reprodução bem como a sua reelaboração. Em uma realidade social com um público que sempre exige novidades - onde requisitam uma arte de entretenimento, clamam por uma obra narcotizada que nos sobrepuja do peso atmosférico estrutural das grandes metrópoles modernas e suas mercadorias - delimita-se o tom com que deve produzir o artista. Entretenimento, arte de reprodução, intensivo afeto narcotizado, obras enlatadas e expostas em prateleiras industriais. Se o gênio artístico não quiser sucumbir unicamente na ressignificação reprodutiva ele deve fugir do público moderno assim como Zaratustra fugiu da multidão. Ele tem que continuar fazendo música como afirma Rogério Skylab em seu quinto álbum. Tem que parar de tocar “Smells like teen spirit” ou “Ana Júlia”. Uma arte enlatada está tão morta quanto o assassinato de deus pelos modernos humanos de massa. E para os artistas que ainda estão vivos: queimem suas obras que porventura foram enterradas em algum jazigo vertical de um supermercado cultural.

Paulo Victor de Albuquerque Silva.


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