domingo, 5 de julho de 2020

Julho do leitor: Aquilo foram gritos ou gemidos?






Para quem são os ais, camaradas?
Para quem a marginalização e os infortúnios?
Ah, intolerável sujeito da ação maligna, que tanto bate até que fura! Se fura, é porque também mata. E matou.
E essa desproporcional força policial? Jamais razoável.
Por isso eu ouço, tu ouves, vós ouvis e nós ouvimos...
Os ais de fulano, os ais de sicrano e os ais de beltrano, são todos ais negros... Há pouco mataram mais um irmão nesse globo terrestre, Navio Negreiro... Ouçam, por favor! Um instante de silêncio para refletir! Foi-se mais um. Outro abatido, mais um negro morto nessa guerra que segrega e perdura. Dessa vez, foram os ais de George Floyd... Mas e amanhã? Últimos suspiros!... Golpe fatal em outro preto.




Parece interminável essa bruteza, estrutura normalizada entre sociáveis pessoas de bem, respeitáveis cidadãos, justos homens que ferem e matam. Difícil, depois disso tudo, cicatrizar tal ferida e restabelecer a paz de espírito... Daí, tudo o que sobra é ressentimento, marcas profundas da injustiça sofrida... Ferida aberta que gera mais violência, morte e sofrimento. Um punhado de desumanidade e desrespeito pode pôr tudo a perder. Todavia, o que se perdeu, novamente, foi mais uma vida negra.
Ah, amargo preconceito!
Ah, odiosa discriminação!





Tragada foi a vida pelo preconceito e pelo racismo. Onde está ó paz? E tu ó amor? Não há paz! Tão pouco amor! Prevalece o ódio em insultos e violências:
“o quadro negro”, “a ovelha negra da família”, “tinha que ser preto mesmo”. E tome gritos, olhares atravessados, risinhos com ar de superioridade, pauladas, pontapés, e tiros, muitos tiros... Alguns perdidos. Isso, perdidos! 
Arde-se em ódio aberto e em ódio disfarçado, no pensar, falar e agir.
O racismo, ah...! Esse é alvo como a neve. Velada linguagem, de total e sutil violência racial ao longo dos séculos.




E cada vez mais empolado em sua roupagem sofisticada e institucionalizada, resguardada por uma minoria que pensa ser dona do mundo, ela é destituída de solidariedade, compaixão e, principalmente, respeito para com o outro.

– Ei, cala a boca, deixa de “mimimi”!
– Parece “mimimi”, meu amigo?
E ginga, e gesticula e enfrenta com o intelecto e a força física que tem.
– É “mimimi”, porra!
E pow! Pow! Pow! Carteirada sobrou.
– Quão poderoso parece ser! E quão importante se acha.
– Ah, é?
Dizia o moço em tom de deboche, mas sem saber ao certo como contra-argumentar. Assim, nada se resolve... O momento fica tenso e confuso... E pow! Pow! Pow! Acabou.
E enfim, ceifada vai sendo as ovelhas negras apenas por serem o que são
Apesar disso tudo, resistem, pois são, e sempre serão, o que quiserem ser.



Valterlan Tomaz Correia

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