domingo, 12 de julho de 2020

Julho do Leitor: A Loteria que se deu e nunca ganhei

Da união do sertão com a cidade bela, venci a primeira empreitada naquela noite singela, ganhei na loteria.
No berço do mais refinado lar do proletariado cearense, fui alimentado com leite e mamadeira quente[...].
Nas andanças aos hospitais, frente as enfermidades da infância, quase sempre recebi pão e esperança[...].
Da mesma natureza enferma, ainda sem saber como, sobrevivi as mazelas, aparentemente, sem sequelas[...].
Na pobreza, cuja situação em que me encontrara (?) era de cárcere, quando não achava quase nada, achara força e coragem[...].
No período dos furacões, fui abrigo e calmaria, ao invés de ventania, ganhei na loteria.
Na vida, aprendi mais do que apanhei e usei tudo que tinha e sabia, com certeza, ganhei na loteria.
Um dia percebi algo que nunca via, definitivamente, tudo mudaria[...].
Achei grandes companheiros no ceio da literatura, de igualmente brilhantismo, doçura e amargura[...].
Ouvindo os espasmos do jovem Kafka, sentei esperando o que a mim era merecido, chegou como um gatilho[...].
Ao som do belo e sórdido poeta maldito, meditei com maestria, ganhei na loteria.
Um dia achei um lar que só existia nas estórias de minha Tia, entrei e gozei como eu previa, felicidade metódica, quem saberia (?)[...].
Nesse período um amigo com tamanho gáudio me falou sobre filosofia, haha[...].
Também, num lindo dia, ouvi falar sobre Agroecologia, que maravilha[...].
Conheci muitos amigos que me afortunariam[...].
A simplicidade e nostalgia havia tomado conta de todo o meu dia, eu sorria, ganhei na loteria.
Um grande ciclo ao qual eu lutava e almejava se fechava, como eu sabia [temia], mas Eu queria[...].
Permaneço na labuta, do jeito que eu merecia[...].
Mas cansado de tanta falta de costura e do materialismo da amargura, por vezes, perco à compostura.
Ouvi dizer que quem não Tem, ninguém atura, às vezes é até posto na rua, é isso a que chamam de vida crua?
Não nasci filho de Banqueiro, nunca herdei mais do que suei com muito esmero, por vezes com tamanho receio.
Mas todo mundo sabe que existe uma fórmula mágica da paz, aquela que mesmo quando a gente dá de ombros ela vem e cai, e faz a felicidade do jovem, do velho e do louco apostador.
"Aeeee, na loteria, puta que pariu, ele ganhou".
Porém, da sorte nunca fui agraciado, aquele belo dinheiro pra suprir todas as contas do mercado, fica só no sonho, igual andar motorizado, ahh pobre coitado... ainda apegado ao espetáculo, igual gado.
Olhei pro Céu enquanto escrevia, quanto infortúnio, nunca ganhei na loteria.

Luiz Tiago Soares






2 comentários:

  1. Pois bora jogar na loteria pra tentar ganhar, se não joga, como ganhar? Nas novElas sempre dá certo, kkkk

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  2. Exatamente, só ganha quem joga rs. Como disse Belchior certa vez: "Vulgaridade do mal".

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