Você sabe quando está sonhando? Já teve um sonho tão longo que se perdia na duração de seus acontecimentos? Você nunca sabe quando começa, às vezes desperta no fim, noutras é consumido pela dúvida se realmente tudo não foi uma fantasia, se aquela lembrança era real. Conversando com os meninos do blog perguntei o que eles achavam do mundo onírico, quais suas impressões. O Júlio me falou sobre a relação do sonho com o inconsciente, como sua força se manifesta logo quando vamos dormir ou quando estamos perto de acordar. Falava ainda sobre as várias emoções intensas que temos quando sonhamos, o quanto criamos histórias fantasiosas e absurdas. Completou dizendo como ficamos vulneráveis ao julgamento crítico, aceitando o desenrolar dos episódios que se acumulam sem nenhum juízo analítico. O Jayme exemplificou as várias sensações bizarras que vivenciou no seu mundo onírico. Recordou como é difícil relembrar os detalhes dos seus delírios mentais. Apontou o fenômeno do sonho como materialização dos desejos inconscientes, toda obscuridade da libido humana elevada à superfície, o que fazia das fantasias uma transcrição sensível dos desejos, não uma tradução linguística através de imagens representativas.
Terminei de ouvir os áudios. O celular estava com 20%. “Tenho que passar menos tempo no whatsapp”. Olhei pro lado. A Suely estava lá. Não percebi. Tive que fazer as compras. A barriga inquieta de fome. Tentei adivinhar o horário pelo ponteiro do sol. Confirmei no celular que estava errado uns trinta e poucos minutos. Peguei a chave do carro no quarto. A máscara no armário. Carteira no birô. Beijei-a na sala. Maçaneta. Carro. Volante. Portão. Depois de cinco esquinas desci no mercantil. O carro refletido na vidraçaria. Portal de imagens entre o interior e exterior do firmamento. Mistura de mundos.
A cabeça de uma cachorra na janela do carro.
Álcool nas mãos. Os olhos falam. O que dirá o resto do corpo?
Uma criança corre entre as lacunas.
As pessoas mantêm distância. Espaço permutado. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar.
Bolas de encher flutuando.
A cada prateleira o vir a ser da mesma sensação, “acho que já comprei isso, devia ter anotado”. No caixa, sacolas e débito. “Acho que já estive aqui”.
Cabeça da gata na janela.
Olhei pro lado. A Suely estava lá. Bilhete na mão. “Não esquece a lista das compras”.
Paulo Victor de Albuquerque Silva
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Jayme, Júlio e Paulo.