domingo, 22 de março de 2020

O despertar de Isaias

A luz do sol batia no espelho d'água e refletia em seus olhos, enquanto Isaias enxergava as coisas que o cercavam de maneira pouco convencional. O pensamento que se desenhava repentino era esse: "Tudo senesce."
Via, tanto nas plantas quanto nas pessoas, deterioração, desgaste. Fosse na folha pouco amarela, carcomida por insetos, ou nas linhas de expressão que demonstravam o sofrer dos anos, a finitude se mostrava. Como que um aviso da brevidade. Os coqueiros pendiam lateralmente, cansados do vento que a todos esses anos os confrontavam, os muros de paredes amareladas aparentavam batalhas lutadas e vencidas pela resistência em permanecer de pé.
"Tudo senesce!", pensava Isaias. "Tudo senesce e nos dá sinais a todo momento."
O mais belo de tudo isso, concluía, era pensar que o perfeito como algo sem falhas é tão falho como a imperfeição sendo apenas o defeito.
O perfeito era para ele, naquele momento, o real, tal qual se mostrava frágil, cheio de falhas. 
A brevidade mostrava o quão grato ele deveria se sentir por apreciar aquilo que o cercava e concluir que do momento em que nasceu, senesce graciosamente, como quem diz aos Deuses : "a estática da eternidade é um saco!" Eu quero mesmo é a brevidade, é poder fazer e arrepender por não ter tido suficiente tempo. É ter no corpo e na alma cicatrizes, que nos tornam únicos e, ainda assim, tão iguais.
Por alguns minutos Isaias permaneceu a observar silenciosamente e agradecer tudo que o cercava, até ouvir o chamado de volta à superfície: "Vem diabo de menino danado, sai da piscina, a feijoada tá pronta!"

Júlio César 

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