domingo, 16 de fevereiro de 2020

Re-trato.


Estupefato, Cristiano mira o bicho.
Jamais vira algo parecido. Medonho. Sinistro.
Era bípede. Braços longos com uma coloração que ia do negro da noite ao marrom do barro escuro, da lama encharcada de adubo.
Nos seus membros superiores, ossos amarelados carcomidos pela subsistência.
As pernas eram feitas de pele, osso e ferro.
No peito exibia penas exuberantes azuladas em leque de abano, que iam do pescoço ao ventre.
O sopapo do vento erguia suas plumas ostentando o vasto dorso enrugado das eras.
Já o couro do bicho era algo inacreditável.
Fragmentada a carne estampava um manancial de formas assimétricas. Desnivelada, a pele estava cercada de depressões que demarcavam o território do incognoscível.
Seu rosto era habitado pela natureza viva entre caules e raízes perfiladas em volta de seus lábios.
Da boca via-se um fogo ardente que anunciava o porvir do vapor da fumaça cinzenta que em parte retornava às suas narinas.
“Será que ele tem nome?” Perguntou Cristiano sem conseguir tirar os olhos da criatura.
“Tem”. Lhe disse. "É um índio".

Paulo Victor de Albuquerque Silva.

2 comentários:

Muito obrigado pela participação. Continue acompanhando e comentando, isso é fundamental para nosso trabalho.

Jayme, Júlio e Paulo.