domingo, 11 de novembro de 2018

Título livre

O que seria essa estranha alegria? Difícil saber. Sei que ela é irrespirável na maior parte da vida. Abafada. Nunca prevemos uma criação ou o arroubo dum estremecer artístico. Por mais que traquejemos, não seremos quase nunca, nesse aspecto, donos de nossa vontade, talvez porque não deixamos nos levar suficientemente. Reagimos apenas. "Se bater, bateu", dizem alguns. Na velocidade do tempo das hiperatividades normais, é raro ver-se inerte, destampado e rachado por esses estados. Deixar-se ser poeta: deixar-se ser receptividade e afetividade do que é criado. Negar a criação. Negar a ação. O estado poético é uma fagulha da vida que realiza em nós. Impossível de prever quando seremos acolhidos. Os deuses brincam em desavisos com os poetas. E eu falo isso como quem diz que as plantas verdejam e se alegram com isso. Ou o brilho brilha e se deixa ser, se deixa alegrar. É qualquer coisa boba, não "ah meu Deus que difícil". Até um poeta alegre me disse uma vez: "é só respirar um pouco diferente e ser só vida, em vez de todo o resto".

Por Jayme Mathias Netto
vivisseccao.blogspot.com

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