domingo, 18 de março de 2018

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Quando escrevemos afetamos alguém. Esse alguém pode ser eu que me afeto. Meu próprio texto me afeta, as regras da minha língua me afetam, a necessidade de pensar dentro de uma lógica linguística me afeta. Depois de escrever olho para dentro do vaso sanitário e vejo se está mais consistente, pastoso, a cor, se parece mimeticamente com outra coisa. Isso me faz lembrar a fase anal do desenvolvimento freudiano em que eu espero o aval da minha mãe ao corroborar ou não com aquilo que sai de mim. Para Freud essa etapa da infância é decisiva à nossa produção no futuro. Se elogiado, mais produção, se rejeitado, enclausuramento. Acho, ou melhor penso - pois meu professor Carlos Dália me disse que eu penso e não acho - que as pessoas de hoje acreditam que suas fezes são maravilhosas, tendo em vista a quantidade de excremento que falam. O que o Freud não percebeu é que o ato de defecar não se restringe nem permanece na vida da privada. Existe o esgoto e ele é público. A multidão olha para a fossa reprovando-a ou não.
Antes de querer mergulhar no tipo de excremento que é exaltado pelos grandes papais e mamães sociais, que tão bem conhecemos como: burguês, homem, branco, europeu, cristão, hetero, etc. Quero que você olhe para dentro do vaso e repare em que tipo de merda você cultiva.
Sei que meu texto está escorrendo para um lado que parece fugir do tema inicialmente levantado, mas isso depende do meu sistema digestivo. O que sai de mim depende muito mais do que eu consumo do que da minha vontade.
Hoje, vejo que meu texto está mais pastoso e um tanto esverdeado.  
Paulo Victor Albuquerque
vivisseccao.blogspot.com

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