domingo, 6 de agosto de 2017

O estômago Parte II

Retomando o texto "O estômago" do Paulo Victor. E pensando em pessoas que compartilham o mesmo estado digestivo dos nossos tempos. Eis que essa manhã acordei com o estômago mais pra lá do que pra cá. Meu dia ficou assim, calmo, calor e calado. O estômago compartilha com ele mesmo dois modos de vida, um que é capaz de soltar e livrar as digestões, o outro é o que é capaz de enrijecer-se, proteger-se para que nada mais aconteça de estranho, nenhum corpo adentre nesse corpo.
Que órgão é o estômago, que coisas ele me guarda!
Nessa sua forma de guardião ele comanda o respirar dos pulmões, as batidas do coração, tudo é guiado pelo estômago que não come bem. Cuidado com o que come, atenção para aquele que produz teu alimento, aquele que faz teu alimento e os que cozinham. É uma longa cadeia de pessoas para que o estômago esteja mal. O mal-estar do corpo é ignorado, e só consegue atenção quando ganha uma doença. Mas logo em seguida vem os remédios, queremos o bem-estar sem perguntar por quê. Camuflamos a vida como se fosse possível a mágica de dominação de nosso estômago, mas ele é um senhor, um velho senhor e já sabe demais para ser enganado, ele reage aos corpos componentes, ele rege toda a ópera não-harmônica do corpo-carcaça. As formas enrijecidas das mãos e dos pés, rezando para que o mal-estar passe, quem comanda é quem está lá e sempre esteve. Guardião das ressacas da vida, dos vômitos inebriantes, ele quer voz e quando a ganha, tomamos um pouco mais de anti-ácidos. Porque desrespeitamos tanto o velho sábio é que ele agora nos questiona com a vida e estamos acostumados a empurrá-lo dia após dia, em nome das pessoas que nos oferecem tudo aquilo que ele não suporta mais. Tudo aquilo que ele nega é justamente o que, por vergonha, aceitamos colocar goela abaixo. Um prato, um coquetel, uma comida, sem perceber que o corpo não quer aquilo, o estômago se responsabiliza, barão da nobreza, quem fica na muralha, guardião de todo o saber, se desespera. Respeitem vossos estômagos, nós não somos magos! Tudo o que o estômago nos diz é que não há espaços para essa gente vazia que olha ao corpo como embutidos e enlatados, comprimidos e cápsulas sufocadas em embalagens descartáveis.

Trecho do livro Outrora : crônica de uns dias perdidos
Por Jayme Mathias Netto
Outrora.net

Um comentário:

  1. Nada como um bom equilíbrio entre desejos e exercícios. Quando o corpo está em linha, os danos serão sempre menores. Não se aflija com o seu estômago, ele saberá bem fazer a sua parte, sempre acreditando no seu bom senso...e no discernimento entre o que é deglutível e sola de sapato.

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