domingo, 21 de agosto de 2022

Releituras (a)gosto: Ranhuras

 Preencho esse espaço


com mais um pedaço de nada.

Encho ele com o vazio que estava em mim.

Em mais um regaço do meu avesso

me pego examinando as ranhuras do real.

Dos contrastes escancarados que ninguém vê.

Estampados na tv de led, nas manhãs de yoga e iogurte grego.

Nas noites de céu estrelado de traçante no Rio de Janeiro.

Preso em dilemas dimensionais da existência, examino a essência que ninguém mais sente. 

Tudo que encontro é angústia.

E a linha, cada vez mais indistinta, do bem e do mal.

Exercício hercúleo.

"Como o drible sem objetivo que se perde além da linha lateral".

E os espaços físicos ficam cada vez mais escassos.

Assinaturas digitais substituem momentos especiais.

Solenidades, reduzidas a QR codes

Não se ouve uma palma.

Na concha acústica sequer viva alma.

Apenas silêncio.

E está feito.

Outorgado mais um grau de imprestabilidade do sujeito 

que vê diante de si possibilidades tão próximas e tão equidistantes, inrreconciliáveis como os polos iguais de um eletroímã.

Resta tentar preencher o vazio dos outros

Para que, de alguma forma, pelo menos fique registrado

"Caso meu carro saia da estrada,

ou o avião que eu pegar decida que é meu último dia". Que quando você estiver só e assustado, não é só você que não está bem. Milhões de pessoas também não estão.

Pessoas infelizes e infelizes tem a mesma cara e se misturam na multidão de perdidos.

Mas como tudo que teve um começo, um dia esses dias encardidos encontrarão seu fim.


Já tem bastante tempo que não é apenas setembro que é amarelo. 

Mas o elo do ouroboros que une começo e final está próximo.

Em breve estaremos aptos a começar novamente.


Júlio César




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