Desprendida fui do aconchego do seio materno e colocada para correr pela casa. Pelas frestas das janelas vislumbrei ásperas e secas realidades e medo senti, ainda tentaram cobrir meus olhos com lençóis de algodão e com o cheirinho de doce de goiaba vindo da cozinha, mas o medo continuou em mim. Chegada a hora, empurrarem-me e o lá fora passou a ser minha casa também.
Rodeada de visões de escassez estava e para acalmar deram-me pequenos simulacros de beleza e liberdade, tentando ocultar o que fizeram de nossa casa. Ando pelo solo seco e encardido, observo o horizonte desmatado, cheiro o ar de metano, olho para o ruído na barriga do menino. Como era bom o tempo da infância, no colo da mãe, deliciando seus doces feitos só para mim. Não há opção para voltar, não há como fingir, agora a escassez está ao redor. Também sou eu.
Nessas alteridades desérticas, que assolam o mundo, abate a sede por novas possibilidades, para que as bocas ressequidas possam enfim falar e que a água escorra para inundar nosso chão. Necessidade há de regar novos começos para o que é de uns vire de todos, para o que é deserto vire oásis.
-R
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Jayme, Júlio e Paulo.