domingo, 6 de junho de 2021

Placa de venda

 No dia 21 de Fevereiro deste macabro ano de 2021 escrevi um texto sobre minha produção artística. Hoje, resolvi escrever um outro, novo, contra mim mesmo. Decretar minha finitude, meu limite, o ridículo e efêmero de minha arte, pensamento que, para a filosofia analítica, nem rigor é capaz de possuir. Agora, de forma livre, posso afirmar que não sou um artista/pensador, sou um produto. Quem sustenta a produção de minha arte é meu público. A arte que não é minha, nutre as multidões de plástico e oferece-me no envelope como presente. Num dia mastigo cifrões, noutro rumino máquina. A arte que me devora, faz de mim sua mercadoria.

Escrevo para servir de consumo, embalagem, reciclagem, escrevo para acomodar, confortar, reprisar. Me enquadro em texto como água da piscina para que, sem correnteza, não deságue em rio. A reificação de mim é coisa, habita mercados, alcança prateleiras, irrompe na fachada das vitrines iluminadas do sempre igual. Já vi o que a indústria cultural provocou em grandes artistas, uma arte de vidro.

Existe no capitalismo uma maravilhosa relação de subserviência entre o artista e seus consumidores. A arte que deve ser definida pela lei da oferta e da procura. Mas a arte é plastívora, ela devora o ser do humano fazendo dele obra sua. Quando o produto toma corpo no mundo ele se reproduz nos rótulos, embalagens, nos valores, e fica ali, empacotado, lançado na caixa do tempo e seus espaços fantasmagóricos.


Paulo Victor de Albuquerque Silva


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