domingo, 10 de janeiro de 2021

Crepúsculo dos mitos

Nenhum deus faz filosofia. Nenhum deus nega, questiona, reflete, rejeita. Nenhum deus é o não ou a negação. A filosofia é mortal, demasiadamente humana e anti-mitológica. Ela é proveniente da finitude, da história, do afeto, sem télos. A filosofia surge do limite, limiares cartográficos, cósmicos e moleculares. Quando cria seus conceitos, faz para que sejam renegados. A filosofia é pecadora. Ela planta na terra seus frutos retirados dos galhos mais altivos, derrubando a marteladas.
A filosofia é mortal, está fadada ao perecimento. A certeza de sua ruína é o que lhe move e lhe imobiliza, ela tem pressa de viver. Em contrapartida, deus vive sua eterna solidão e a certeza do destino. Logo, a verdade filosófica jamais foi revelada aos humanos, ela é uma paixão que nos invade e nos transmuta. Nela, deus é trans.
Mesmo perante toda inveja divina, a filosofia resiste, fragilizada e inquieta, finitamente humana e precariamente mortal. A filosofia é a mosca que pousou na sopa e que pintou pra abusar o agonizante mito brasileiro.

Paulo Victor de Albuquerque Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito obrigado pela participação. Continue acompanhando e comentando, isso é fundamental para nosso trabalho.

Jayme, Júlio e Paulo.