Poetas são pontes que ligam dois abismos.
Teleférico entre montes.
Fontes do livresco sem o livro.
Pontos críticos de um abalo sísmico.
Algoritmo que flutua entre verdade e opinião.
Falso silogismo entre escrita e noção.
Sentido sem direção.
Livre escoar da vida pelos cantos,
nos detalhes esquecidos,
nos prantos que secaram e ninguém viu.
São veneno e cura do mesmo mal, elixir amargo e mel doce para a dor banal do vazio.
Poetas são causa sem motivo
São choque sem aviso
e entram sem pedir licença,
ou nem chegam a dar o ar da graça.
São certeza que mata dúvidas e conferem nova vida às células que vivem túrgidas de solidão e acham que por isso estão sós.
Para depois engodar o peito em outros nós e dar a convicção de que nascemos e morremos sozinhos.
São mais de um mesmo que raramente se encontra, mas que facilmente se acha se olharmos com mais atenção aos detalhes.
Poetas são quando convém,
falam quando condiz
Àquilo que conduz ao alvorecer do espírito,
à conclusão de que "não precisa morrer pra verter luz"
nem ser pregado numa cruz online
para que a sua verdade seja ouvida.
Poetas são brasa que marcam na alma eterna cicatriz,
ou mesmo entram pelo ouvido e saem pelo outro.
Voltam pelo nariz como o ar para aqueles que respiram arte.
Um todo, em partes.
Universo particular,
partícula universal,
Região abissal do sentir.
São imperfeições perfeitas
Atmosfera rarefeita para o pétreo
Um sol prestes a se por e ensaiar o nascimento
Amantes da verdade e escravos da mentira
Soco seco na barriga
Projétil de alta precisão e calibre.
O deixar livre a ponta do lápis e dos dedos.
Malabares de palavras
Lavradores de fulgor
Fazedores de pirraça
Lavadores de amor.
Humor que muda a cada linha
Calafrio que percorre a espinha
e termina no cortex central.
Não almejam lucro, nem lacre.
Seu recitar está além das eras,
são o massacre daquele que venera a palavra estática.
Inimigos e amantes da gramática, somam versos onde um mais um é tudo, menos dois.
Fragmentos de um mosaico, matemática do caos.
Festim que fere de morte o orgulho do formal e do cômodo.
Poetas são e a felicidade fugaz inveja,
pois eles são brecha por onde passa o que permanece até depois de saciado o próximo desejo.
Acometem como num lampejo,
mas quando acertam o ventrículo, não há folículo na pele que não sinta sua presença.
Poetas são tanto e tão pouco
Que eu poderia escrever este poema para sempre ou não ter escrito uma letra ou pensamento solto sequer nesse bloco de notas.
Tantos e tão poucos
Hoje tidos como loucos
Pois usam da palavra para viver
Ainda assim.
Eles permanecem.
Pois em hipótese alguma meramente estão.
Poetas são! E sempre serão.
Júlio César
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