domingo, 17 de novembro de 2019

Homens comuns não olham para o céu



Homens comuns não olham para o céu.
A não ser quando se reflete em uma poça d'água que, por acaso, cruza seu caminho inoportunamente.
Ele tem na mente outras prioridades.
Homens comuns, não no sentido de ordinários ou medíocres. Esse texto não é sobre ser superior, mas sobre o homem comum, de comunidade.
Imersos em gothans particulares, pendurados em celulares, tablets e smartwatchs.
Homens comuns não olham para o céu, pois tem no rosto um véu que deixa espaço apenas ao "necessário". O extraordinário está fora de questão. A preocupação está no salário e nos descontos do fim do mês.
Não é também, como se ele não quisesse olhar, mas pelo dinheiro que se torna tempo e que reflete a folha de pagamento de onde se tira o sustento dele e de mais três.
Ele deixa de olhar, pois como se fosse um jogo de pega varetas, está tão imerso naquilo que urge sua atenção, do que tem diante de si, que pouco importa contemplação das estrelas e a lua, o que é vital está nas ruas, é tirar a próxima vareta sem mexer nas outras cem.
E assim, distraído, atenta somente ao requerido, esquece a colorida mistura de azul celeste, laranja e negro, enquanto anda pelos becos apressado para fazer a próxima integração.
Ser homem comum é cada vez menos escolha, cada vez mais necessidade, a cidade é o ímã que magnétiza seu olhar.
Mais dia menos dia, a paisagem é uma só, muros de concreto, prédios e engarrafamentos. Reclamações e lamentos regem a maioria de seus murmúrios.
O homem comum não olha mais para o céu e passa a ser eterno réu do julgamento do sistema. "Por que não ganhou mais?" "Por que deixou de lucrar aqui?" "Anda no mundo da lua?" Antes fosse...seria bem mais doce o destino de quem anda nas nuvens.
O homem comum não olha para o céu e quem perde com isso é a vida, regida pela pressa do que "tem que ser feito" por um sujeito cada vez mais rejeito de si.
Eu mesmo tenho esquecido...não por escolha, mas por precisar estar dentro da bolha, no mundo onde o trabalho dignifica.
Roguo a mim mesmo e a quem mais possa se interessar, com esse texto, um lembrete, que não se encolha e deixe de olhar para o céu.

Júlio César 

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