domingo, 14 de abril de 2019

Périplo destino


Despeço-me hoje
munindo o inverso do que sentia quando aqui chegara.
Das águas turbulentas que aqui me trouxeram,
espero hoje que me recebam suaves.
Que as aves que antes denunciavam a solidez da terra, hoje me desejem boa fortuna.
Que a oportuna viagem mostre na imensidão azul o quanto ainda hei de navegar.

Despeço-me hoje
E peço-lhes que velem pelos versos
pelas velas das belas palavras,
para que se estendam ríjas pelos ventos da inspiração.
Que me conduzam são e salvo além da rebentação, e das ondas do embrutecimento.
Que na lembrança permaneça a enseada antes de sumir no horizonte e os verdes montes da costa à beira-mar
que com todo jeito de lar, sempre me dirão: "bem vindo!"

Despeço- me hoje
Certo do regresso que cedo ou tarde se dará
Tal como a cobra que se volta à própria cauda.
Despeço-me por um instante
Certo de que o sextante da memória me guiará de volta, outra e outra vez.

Despeço-me
humildemente,
peço passagem,
a Poseidon e Iemanjá
para que me livrem das sereias,
para que eu não encalhe nas areias
que privam do livre pensar.
E que tenha sempre em mente
que mesmo Eu, marinheiro de tão pouca viagem
com tudo a revés,
não me deixe levar pela corrente.

Por Júlio César

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