domingo, 7 de maio de 2017

The Road to Nihilism

O que você absorve? Ou, mais importante, o que absorve você? O que o afeta?

Talvez não possamos controlar como o que é externo nos mostra, mas sim controlar a representação daquilo que se mostrou em nosso ser.

O significado surge da relevância dada à afecção sentida.
Origem-Jayme Mathias
Hipocrisias à parte, o copo cheio e o copo vazio são mais do que a forma como você observa as coisas. São a função que a água contida no copo vai desempenhar no seu corpo.

De que forma você se permitirá afetar por aquele meio copo de água? Sentirá certa saciedade e dará graças, ou acharia melhor não ter experimentado tão pouca quantidade para que então lhe despertasse mais ainda a sede?

Trata-se de muito mais do que de aparência. É sensação, além, introspecção, reflexão.

Ora, se a vida é como dizem "feita de escolhas", é a razão quem deve mediá-las.

Em um mundo em que a digestão das "coisas como são" é inversamente proporcional ao "que sabemos dessas coisas e desse mundo", deliberar acerca de algo simplesmente pelo que vemos, ouvimos, cheiramos, tocamos, só poderá nos conduzir frente à enorme muralha do equívoco. Obrigando-nos a viver numa eterna fantasia superficial digna de jornaletes e revistas de fofoca.

Ao tentar significar a filosofia do cogito, Descartes afirma que a verdade das coisas exteriores são diferentes de como as concebemos. Isso é o que, de fato, nos caracteriza como não dimensionadores da verdade.

Mas então o que é?

O que em essência nos possibilita conhecer, contemplar, vislumbrar um pequeno feixe, mínimo que seja, da luz da qual se referia Platão? Será que a verdade reside no fracasso de sua indeterminação tal como queria Pirro?

Será a razão uma brincadeira de mau gosto a fim de complicar aquilo que é simples? Um esforço mental que tal como areia, se acumula em volume, mas nada mais representa do que microscópicos fragmentos de incompletude?

Diante das "catástrofe" da subjetividade nos perguntamos: o que é real? Quando mesmo a pedra secular que caracteriza o início da história humana, a linguagem, hoje, encontra entraves que mostram sua incompletude, sua maldita subjetividade.

Será então a vida dos sentidos que deve ser levada?

Seria o Logos um erro? Uma espécie de bug de um sistema? Uma doença? Que nos conduz à infelicidade e à constante aporia, como em um loop eterno?

Pois, tal como Sócrates ao se deparar com a imensidão do saber, temos a certeza não apenas de seu tamanho, mas também de sua impossibilidade.

Por Júlio Cesar
vivisseccao.blogspot.com

3 comentários:

  1. Solipsista porém, Belíssimo. O termo catástrofe define cabivelmente a subjetividade mas, diante da pergunta: "Será então a vida dos sentidos que deve ser levada?" que opção temos senão esta de crer no que propõe nossos sentidos? Não é decente ter a possibilidade unica de experimentar a condição humana e desperdiça-la entregando-se a essa aporia existencial.

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    1. Olá Rav Ena! Obrigado pelo comentário. Este texto, na verdade originou-se da dúvida do hiperceticismo gerado por Descartes, junto a uma leitura conflitante com a noção do cogito apresentada por Hobbes, que beira um solipsismo metafísico no livro de Richard Tuck, que à propósito, recomendo por ser muito bom.
      De fato, muito bom seria caso pudéssemos confiar na esfera do sensível e somente nela. O texto surgiu de uma melancolia na qual a ignorância por vezes pode realmente se mostrar uma benção e trata,dentre outras coisas, deste ponto. Pois a cada dia, ao descobrir novas coisas, por vezes, nos entristecemos ainda mais. Tomei como base o pensamento de pessoas que relatam que se pudessem voltar, viveriam na caverna para sempre. Essa tal aporia, gosto de pensar que seja o preço que se paga pela audacia da sede de compreensão, ou talvez resida aí mesmo o fato de Deleuze caracterizar como a função da filosofia, o entristecer. A razão tem lá o seu preço.

      Até mais.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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