Havia algo entre as eras,
algo que não era
Existia sem ser vista,
nas entranhas dos dias, muda ficava
Em meio a isto e aquilo,
não dizia
Se ser é ser percebido,
então não era, pois não havia
Um não lugar, não ouvido,
não sentido, não comido
E as horas passavam ao
seu largo, mansa corrente de era
Arrastando tudo e todos
que transcorreram
Mas aquela coisa no meio
deslocada, fora do radar, nunca era
Não é o nada, pois o nada
tem sido
O não ser, existente,
puro e límpido como tudo o que não é percebido
Se escrevo sobre ela é
porque quero que não seja
E faço isso com o verbo,
dentro do Ser que é linguagem
Dizer o indizível já que
nunca percebido
Mas ela está aqui bem
perto, íntima do lugar em que a palavra não mora.
Paulo Victor de Albuquerque Silva.