domingo, 11 de setembro de 2022

Nada escrito

 

Eu não tenho nada escrito.

Tenho o que cito e tão logo esqueço.

Tenho o cálculo mas também o devaneio.

Receio ser esse o preço da geração fast food.

Fast think, fast poetry. Tudo tão a miúde.

Robin Hood, tiro da gramática, pra dar ao motivo.

E sai tira da Mafalda com piada sem sentido.

Acho que entender é melhor que soar bem na norma culta.

A vida adulta transcorre por mim como brisa que não marca. Não conta.

Como passar batido no fotosensor.

Aguardo pela multa do excesso de velocidade.

Salvo pelos cabelos brancos que se reproduzem em minha barba, denunciando a idade,

Vivo a eterna ressaca de dias fúteis.

Carrego em minha Arca de Noé, porquês raros e vazios.


Eu não tenho nada escrito.

Nenhuma frase em negrito, nada que denote brio, que a algures possa ser citado em algum rodapé.

Tudo que falo, já foi dito.

Ando por aí feito um céu repleto de nuvens carregadas sem que, no entanto, caia delas um reles pingo d'água.

Não decoro nada do que falo.

Não recordo nada do que escrevo.

Não declamo.

Me derramo sobre o silêncio constrangedor.

Nas horas vagas, reclamo.

Bodejos fluem como enxurrada, arrastando barrancos de sensatez e prática.

Me misturo em solução eutrofizada onde algumas poucas partes por milhão são jóias, que nem acredito que tenham vindo da minha foz.

Tão raro quanto as avisto é ouvir sua voz.

É preciso tempo.

É preciso deixar acalmar, para perceber que a vontade precisa de falta para se revelar. 

Deixar a torrente virar calmaria, rio cheio de volta.

Rebelião e revolta, darão lugar a um fino fio de sensatez.

Depois de toda a baboseira que se solta e vai embora de vez no resmungo sobrenadante, brilha no fundo do espelho d'alma o instante pensante do não dito.


Perturba como zumbido de mosquito.

Ressoa como as 7 trombetas...

E eis me aqui a escrever algo que amanhã já não lembrarei.

Mesmo assim...


Ainda que nunca tenha realmente estado aqui...


é bom estar de volta.


Júlio César 

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