domingo, 9 de janeiro de 2022

Tem vez...

 

Tem vez que não dá
Não adianta
Nem almoço, nem janta
Enche o bucho da inspiração.

Tem vez que engancha
E nem estribucho de criança
Faz o capulho da ideia desabrochar.

Tem vez que embaça
Num meio mundo de fumaça
De realidade 
De desgraça
Que desgasta achar o tema que não tema um, ou outro olhar
Que não trema ao titubear dos dedos de quem ajuíza.

Tem vez que vem furacão, outras é só é brisa 
E tem vez que nem quem colhe o que planta
Segura na mão o mesmo grão
Nem quem corre, ou quem anda
Acha lugar na condução da escrita.

Tem vez que tampa
o Bandaid da ferida
Entope que nem cabelo no ralo
A "gana suicida" de fazer emenda
Que nem a rolha no gargalo
Menor que a encomenda,
Não cabe nem a pau.

Tem vez que, nem choro, nem reza
Pra canto nenhum leva
O peso é leve
E a leveza pesa uma tonelada.

Tem vez que, em vez de sair, entra
Em vez de dividir concentra
Em vez de concentrar reparte
Que nem se espatifando em arte, se acha um só pedaço
E nem juntando os cacos, dá um todo.

E tem vez que não, que vem palavra de rodo
Em vez de metade vem um inteiro
Verso mais numeroso que dinheiro, do roubo do banco central
Mais brusco que chute na pleura sem peridural
Mais quente que o calor de meio dia, pelas ruas de calçamento do sertão central.

Tem vez, independente da tez, da aura
da alma,
Da palma, ou da vaia
Se espraia, sangra, escorre, brota.
A torrente arromba a porta que segura a norma culta.

Tem vez... Vez que sim, vez que nem tanto.
Vez que sai rouquidão, vez que sai canto.

Tem vez que nem ia
E, como quem soluça 
Expulsa, sai,
Feito necessário nascer do dia
espasmo da alma,
Tem vez que nem era nada

E tem vez que é poesia.

Júlio César

2 comentários:

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