domingo, 5 de setembro de 2021

Amortesalva

Tava lá pintado no muro.Em uma foto. Do Instagram.

Num muro de São Paulo. 

Nunca passei por lá, ainda assim me senti presente.

Porque a arte saiu da parede da foto, de repente.

Cruzou a divisa dos estados, mais rápido que qualquer avião. A tinta não foi suficiente pra segurar a sede. Ela vaga, na velocidade axônica. Como um parasita, procurando um coração hospedeiro.

Em dias estranhos, em que o silêncio  tem sido o melhor amigo, a arte é o estampido da bala do canhão, uma orquestra sinfônica, a ressoar na mente mais relapsa.

Palavras pintadas que cortam como faca o lobo frontal.

Colapsa o metabolismo basal do cerebelo.

Descompassando o ritmo do mediastino centrado.

E a dúvida? Amor ou morte? 

Sorte! De  perceber, sem nunca sequer ter ouvido o som que ela produz, no rolar da tela, numa foto, num muro, uma frase que até agora martela o juízo...um arranjo sintático com efeito lisérgico



Tava lá, pintada num muro, por alguém que eu não sei quem é, em uma foto tirada por alguém, não sei quem foi. E nem importa... Como uma flecha torta ricocheteou e bateu em mim.

 

Lá pintada, num silêncio que agora fala tanto na minha alma.

E tem gente que fala fala e não diz nada.


Amortesalva!


A arte também.

Júlio César Barboza

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