E se a verdade for a simplicidade falha daquilo que cada um tem para si?
Se o céu for o véu que encobre a vitrine da miudeza do mundo?
E se o complexo for o simples e o nexo sem sentido? O herói o bandido?
E se o que é bom for aquilo que me agrada?
O quão egoísta sou?
E se for a ordem uma tentativa inútil de fechar os olhos ao caos?
Se for a bonança, no fim, só mais um temporal?
E se Sócrates fosse o sofista?
Se cada um for o artista e a tradição só mais um bando de ultraconservadores?
Se os leigos forem os doutores? Os lobos os pastores e o silêncio o grito?
A crença o mito? E o falado o que não foi ainda dito?
E se nascer for a morte?
O azar for a sorte e curar for um corte que não cicatriza nunca?
E se o lado certo for do avesso?
Se o fim for o começo de um "eterno para sempre?"
Se o tudo que eu sei for o nada que eu sou?
Se a Bossa Nova for o Rock'n Roll?
Se o "não sei de onde venho" for "saber onde vou"?
Quando é que eu vou chegar?
Se a mudez for eloquência e a religião uma ciência? Quem são os sábios do nosso tempo?
E se o dia for a noite? Se o carinho for açoite, sangrar é amar?
Se o sertão for virar mar?
O fim do mundo nunca se acabar? O que é que fica pra depois?
E se a polícia for facção?
E a fé for razão? Se usar a cabeça for agir com o coração?
Se a esquerda for direita?
Se o aborto for pró-vida e a facada uma cuspida na cara de quem se perdeu na estrada do inverso?
E se o sublime for o trivial? Se o bem virar o mal?
E se aquele racista, depois de tudo, for o normal?
Em quantas encruzilhadas perdemos o caminho de casa?
Vital é, pois, que busquemos a verdade, porque se o cedo for tarde
e a única certeza for a dúvida,
a vida não passará de um eterno
"e, se..."
Por Julio César Barbosa Dantas