domingo, 23 de agosto de 2020

Releituras (a)gosto: Reflexos

 Reflexos de uma poça d'água em meio ao asfalto, dizem muito sobre os dias de hoje.

Entre as brechas do portão, consigo ver na poça refletido, o céu. Cinza, nublado,que não choveu em ninguém.
Aqui e acolá um teimoso passante me lembra da caminhada matinal, exceto pelo uso da máscara, que deixa tudo com uma cara de velho oeste do século XXI.
Apocalipse inesperado oriundo do microscópico. Irônico é que algo invisível aos olhos cause estrago colossal.
A vida mais uma vez mostra ao homem a máxima socrática de que nada sabemos, sobre tamanhos e de quão somos bêbados e equilibristas.
A poesia se ensaia na melancolia, mas se perde nas paredes do exílio particular, falta vivência.
Por isso hoje escrevo sem rima.
Subo ao segundo andar e lá de cima tento lembrar de como era bom ser livre.
Sem cometer nenhum crime volto os olhares à poça, a realidade é como seu reflexo, limitada, turva, distorcida.
Entristeço, filosofo um pouco, mas nada que renda pouco mais de meia página.
Talvez a vantagem de toda essa ataraxia seja o escrever sobre ela quando tudo isso passar.
Vou voltar a ler e esquecer da poça d'água.

Júlio César 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito obrigado pela participação. Continue acompanhando e comentando, isso é fundamental para nosso trabalho.

Jayme, Júlio e Paulo.