domingo, 12 de maio de 2019

Um fragmento do tempo no espaço

Deleuze nos alertou sobre o surgimento da sociedade de controle, um aperfeiçoamento daquilo que conhecíamos como sociedade disciplinar. Sabemos que a concretização desta nova sociedade se deve às estruturas centenárias das instituições disciplinares que se enraizaram nas dinâmicas sociais modernas. A sociedade de controle encontra subterfúgios biopolíticos, e se fortalece, por meio da fragmentação da vida social - não estamos nos referindo simplesmente à disposição disciplinar dos indivíduos em territórios demarcados pelo açoite do cronômetro que modulam seus corpos - mas devido ao fim da experiência do limiar em face da metrópole onírica e seus espaços temporais fantasmagóricos.
Os limiares da existência sempre foram demarcados pelos rituais de passagem. Neles os indivíduos reconheciam o fim de um ciclo e o início de outro, experiência necessária para a constituição psíquico-social, evento interpessoal que envolve o indivíduo e seu grupo. Os fluxos ininterruptos que conectam o espaço e tempo da vivência contemporânea produzem um agora desprovido de memórias de passagem. Não transpassamos portais bem delimitados que demarcam o fim e o início de um novo território existencial, antes flutuamos entre tais territórios, assim como quem transita entre as imagens oscilantes do sonho. Logo, quando nos encontros em um novo território, é comum nos questionarmos “há quanto tempo me encontro aqui”? O espanto dos seres contemporâneos é com seu espaço e tempo.
Enquanto isso, como diria Benjamin, somos rodeados, diariamente, por diversas novidades – não vivenciamos o novo, somente a transposição do mesmo, do sempre igual. A novidade não se impõe somente enquanto mercadoria, ela também se manifesta na vivência da metrópole, torna-se um eterno retorno de novidades, gestos, moda, comportamentos coletivos, ideologias, sensualidades. Afinal, não me lembro como se iniciou o sonho, somente o vivo.

Paulo Victor de Albuquerque Silva

3 comentários:

  1. Por isso uma dia estava me perguntando: como é o tempo fora da mente?

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  2. Será que um dia poderemos saber? A não ser que um dia não tenhamos mente. É possível pensar fora da mente ou sem uma mente?

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